quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Problemas

A Solução é Criar Problemas



Crises cíclicas de mercado sempre foram uma ótima oportunidade de
revisar conceitos, reavaliar dogmas, e colocar em dúvida padrões
estabelecidos em administração empresarial.
São nesses momentos que fica clara a diferença entre eficiência e
eficácia, ação e movimento, mando e comando, normalmente
considerados sinônimos entre empresas e executivos na avaliação de sua
performance.

Empresas como IBM, General Motors, American Express, e outros
grandes ícones deste século, estão passando por profunda crise de
identidade e objetivo. Partem, então para cortes maciços de pessoal,
demissões na cúpula, fechamento de fabricas e unidades, uma verdadeira
diáspora feita em nome da necessidade imperiosa de se ajustar aos
novos tempos.

A pergunta que fica latente na cabeça de cada um de nós, é se tudo isso
será suficiente para realmente alterar sustancialmente o destino dessas
corporações. Afinal, dificuldades conjunturais sempre determinaram
alterações estruturais nas organizações. Parte-se do princípio que
cortando cabeças ou encontrando culpados já é, de per si, uma solução
para o problema. Essa visão imediatista, tática e de curto prazo é um
comportamento que infelizmente se espalha dos clubes de futebol até as
mais sofisticadas empresas do mundo, onde mudam-se os profissionais,
mas não se altera a ótica de como se deve enfrentar os problemas e
dificuldades.

E parece que essa síndrome está se repetindo cada vez mais.
Procurando acompanhar um padrão estabelecido há dezenas de anos por
escolas de administração, e obedecido até hoje por head hunters e
diretores de recursos humanos, a busca por executivos que ocupem
postos de comando nas organizações tem se utilizado de parâmetros e
modêlos que não funcionam mais.

Como resultado disso, passamos os últimos trinta anos recrutando e
colocando nas posições chave ou de liderança de nossas empresas,
executivos de carreira, e não verdadeiros homens de negócio.
Vendeu-se a necessidade de uma administração profissional e técnica, e
os antigos patrões ou proprietários das empresas cederam seu lugar,
resignados e confiantes, para profissionais de aluguel.
Assim, um novo espírito assumiu o poder nas organizações. Executivos
que colocam seus objetivos e interesses pessoais à frente dos interesses
da própria empresa, estando mais preocupados com fringe benefits que
com a atuação da concorrência.


Essa troca de comando, e alteração do modelo de liderança, trouxe como
consequência uma ruptura do senso de missão e espirito de corpo dos
empregados em geral, passando a existir cada vez mais uma
individualidade de interesses, situação perigosa para a continuidade da
própria empresa.

Se esse fenômeno já tem sido identificado como um problema emergente
em mercados estáveis e durante períodos de tranquilidade, em situações
de crise ou indefinições econômicas, as consequências são ainda mais
desastrosas.
A verdade é que em termos pessoais, e de perspectiva de carreira, os
executivos em geral entendem que a atitude de não decidir é sempre mais
seguro que tomar decisões. E numa crise, esse dogma é ainda mais
verdadeiro.

Criou-se uma nova casta de executivos que se apossou do poder para
fazer com que as coisas sigam como estão. Ao invés de tomarem pulso
da situação, tomam seus proprios pulsos preocupados com seu nível de
tensão e stress.
Como consequência, nunca tivemos uma mediocridade tão grande no
comando das empresas quanto nos dias atuais. É um misto de indefinição
de mercado com indecisão de comando. Não decidir tem sido mais seguro
para o executivo, mas desastroso para as empresas.E a razão desse
problema não está na qualidade dos recursos humanos, e sim na missão
e objetivo que lhes são determinados.
Temos contratado profissionais de comando para nossas organizações
com a missão de resolver problemas. Na verdade hoje, mais que nunca,
precisamos de líderes que tenham a capacidade de criar problemas, e de
liderar sua equipe na busca de soluções. Verdadeiros homens de negócio
que constantemente gerem desafios, e que não se contentem com o
estabelecido, com o pré-concebido, com os dogmas e padrões vigentes.
Padrões clássicos de comportamento empresarial já não funcionam mais.
Para situações atípicas, ou não repetitivas como a que atravessamos
atualmente, modêlos estabelecidos servem apenas para prolongar a
sobre-vida, jamais para desenvolver ou sair da situação que nos
encontramos.
Precisamos rapidamente trocar nossos executivos de carreira por homens
de negócio. Trocar gente especializada em resolver problemas, por líderes
cuja função seja cria-los constantemente, revisando conceitos e indo além
do estabelecido.
Muitas empresas dos EUA estão optando pelo crescimento orgânico,
ampliando o número de profit centers, e dando seus comandos a mini ou
micro empresários. Títulos de MBA e PHD perdem gradativamente sua
importância, dentro dessa nova visão de expectativa de performance
evolucionária.

A nova teoria da Corporação Virtual, na qual empresas são um verdadeiro
organismo vivo que cresce ou diminue quase instantâneamente, através
de alianças estratégicas específicas, parece ser uma receita ideal para
esse novo perfil de comando das organizações.
Experiência e ousadia passam a ser características cada vez mais
valorizadas, alterando até a renitente aversão das empresas por
profissionais de faixa etária mais elevada.
Com executivos de carreira no comando das organizações, acabamos
entrando num período de profunda crise e indefinição. Sobreviver, ou sair
dela, exige mais do que simplesmente resolver problemas e postergar
decisões. Não devemos temer mudanças, e sim mudar os que temem.
A saída é ousar e gerar desafios. Criar problemas é a única solução.